Nas minhas andanças por este Brasil, mais precisamente numa parada em Brasília, conheci a Helena.
Helena é uma mulher jovem que costura há bastante tempo e que no decorrer destes anos exercitou o “usar os tecidos até o fim”. Ou seja, costurar com zero desperdício.
Neste encontro aprendi muito sobre a criatividade em aproveitar tecidos e quero compartilhar com vocês, costureiras deste vasto Brasil, a experiência dessa mulher que me ensinou demais a cada vez que mostrou um produto que fez.
Éramos dez mulheres reunidas numa noite quente de segunda-feira.
Antes de começar qualquer aula, gosto de remendar um dedo de prosa com as meninas pra gente se conhecer um pouco e é sempre gostoso ouvir suas experiências com costura e outros trabalhos manuais. Porém , uma “maluca” começou a contar sobre suas costuras com números megalomaníacos:
– Fiz toda a decoração do casamento da minha filha: 250 jogos americanos com os guardanapos, nove colchas de patchwork, 12 almofadas para as daminhas se sentarem e 400 corações recheadinhos para lembranças;
– Costurei outros 250 corações de tecido para o aniversário de 90 anos da minha mãe;
– Cada colcha de retalho possui 1098 quadradinhos cada, incluindo pequenos corações aplicados.
Claro que eu me assustei. Tanto pela quantidade de itens costurados, quanto pelos detalhes que ela citava em cada peça feita.
“Ela é bem doida mesmo, heim! Gostei” – pensava eu.
E, no decorrer das horas, Helena foi explicando que desde que começou a questionar o desperdício dos materiais, passou a fazer projetos em que cada sobra de tecido pudesse ser aproveitado. Surgiram assim os mini corações costurados em quadradinhos de 9×9 que são sua marca registrada.
O primeiro item que ela trouxe foi um vestidinho que fez pra neta com sobras de tecidos. Ela o trouxe porque disse que aprendeu a forrá-lo em um dos meus vídeos, mas eu fiquei foi encantada com toda a beleza que o pequeno vestidinho transpunha de pertinho. Era algo tão gracioso que não teve uma mulher que não tenha se derretido inteira com aquele “pedaço de tricoline” transformado em roupinha.
A neta dela é realmente uma garotinha de sorte, concluí.
Se você notou os coraçõezinhos no detalhe do vestido, saiba que é com corações um pouquinho maiores que esses que Helena faz as colchas. Pra quem não entendeu, ela faz assim: conforme os cortes dos tecidos vão virando sobra, ela pega todos os retalhos e os separa em:
– o que vai virar quadradinho;
– o que vai virar coração;
– o que vai virar tira;
– o que vai virar enchimento de almofada;
E com isso absolutamente nada vai para o lixo. O aproveitamento do material é completo.
Diz aí se não é uma atitude muito nobre?
Às vezes compramos tecidos caros e cuidadosamente encaixamos os moldes para um bom aproveitamento do material, mas sempre tem aqueles retalhos que não encaixam em nada. E tem peças (como saias godês) que dão uma sobra de tecido bem grande também. O que fazer com isso?
Eu confesso que costumo usar as sobras maiores para peças como necessaires e bolsinhas. Tenho também o hábito de doar alguns retalhos para quem usa na confecção de tapetes mas, muitas vezes, fico guardando as sobrinhas num certo apego pensando em usá-las algum dia. O problema é que raramente faço algo com esses tecidos todos e é por isso que Helena me ensinou um monte: ela me ensinou na prática como utilizar os tecidos até o fim de forma simples, sem pressa e com beleza.
Alguns dias depois fui conhecer seu ateliê de costura e lá vi a organização pra tudo isso acontecer:
– 3 latas de não-lixo são usadas para separar o material e assim evitar a bagunça;
– 1 gaveta guarda os retalhos de tecido antes de serem costurados;
– 1 outra gaveta fica com os quadradinhos já juntinhos de seus devidos corações.
E conforme ela tem tempo, vai colando os corações no papel termocolante depois os costura nos tecidos e os deixa todos eles guardados. Quando precisa presentear alguém, une os quadrados e rapidamente faz uma almofada, um colcha ou qualquer outro produtos de costura, por exemplo.
Tudo isso é uma forma de exercitar a costura sem correria, criando objetos úteis, de boa qualidade e sem gerar mais lixo imediato neste nosso planeta.
E quando eu achei que havia visto de tudo, Helena me mostrou um “rolo” de tira de tecido.
Explico: sabe aquelas tirinhas que ficam sobrando e parecem não serem úteis para nada? Pois ela vai retorcendo (no tempo livre, vendo um filme, por exemplo) e os une, formando uma tira enorme e colorida.
E, quando faz algum presente, embrulha e finaliza o pacote com essa fita. Diz se não é demais?
Pra terminar: Helena mantém um cesto de “não lixo” com resíduos de tecidos que, de tão pequenos, são impossibilitados de uso. – “Separo aqueles que não posso mais emendar – quase fiapos – e junto também as aparas de linha, pedacinhos de manta acrílica, tecidos sintéticos que porventura surjam no meu ateliê etc e confecciono almofadas tipo Futon com pedaços de pernas de calças jeans”.
Voltei de Brasilia pensando seriamente em aplicar parte dos ensinamentos de Helena na minha rotina de costura e, principalmente, incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo para que o tecido seja usado em sua integridade e que menos resíduo vá parar nos sacos de lixo.
Enquanto escrevia este texto, lembrei-me de minha mãe que faz o mesmo em toda sua vida de costura. Com pouco menos de “design”, mas com o mesmo apreço pelo material, minha mãe também sempre aproveitou os tecidos que sobravam para fazer vestidinhos para as netas, roupas de bonecas, almofadas pequeninas para bebês e dezenas de itens para a sua casa. A utilização dos tecidos sempre esteve a minha volta, mas o olhar criativo da Helena gerou um desejo imenso de mostrar pra todo mundo como dá pra fazer coisas bonitas sem pressa e com o coração.
Para acompanhar o trabalho minucioso da Helena, CLIQUE AQUI!
E diz pra mim: o que você faz com suas sobras de tecido? Tem idéias boas para aproveitá-los?
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Até logo,
Patricia Cardoso
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Confira meu post aqui no Clube da Costureira sobre 3 dicas para escolher o forro ideal para as suas peças!