Categories: Corte e Costura

Costurar com peça piloto é perda de tempo e desperdício de tecido?

Olá, tudo bem?

Caso você ainda não me conheça sou Patrícia e costuro há mais de 10 anos. Tenho um blog e um canal no YouTube e também sou colunista aqui no blog da Maximus Tecidos.

Voltei para falar um pouco sobre a confecção de roupas e como alcançar um bom resultado. Afinal, até mesmo uma iniciante na costura merece uma peça bacana depois de horas dedicadas à costura.

Foto: Pinterest

Neste vídeo falo sobre a minha preferência por sempre fazer a peça piloto, porque foi dessa maneira que comecei meus estudos com modelagem. Como sou meio cartesiana neste assunto, testar faz parte do meu processo de costura e é minha base para uma peça com bom resultado.

Já fiz roupas sem testar? Algumas.

O problema é que, mesmo com a prática na costura e um olhar atento para modelagem, eu quase sempre me dou mal. Talvez isso seja só um reflexo do que é consumir algo pronto (seja uma roupa de loja ou um molde de alguma empresa). A questão é a mesma: elas não foram feitas exclusivamente para o nosso corpo.

E todo mundo está “careca” de saber que cada corpo tem características únicas que dão à roupa resultados diferentes.

Mas veja só o caso: ganhei um molde no tamanho 38 de uma amiga e escolhi um tecido lindo que trouxe do Brasil para costurá-lo. Eu nunca havia usado aquele molde, então fazê-lo direto no tecido final trazia consigo o risco de talvez ter uma peça que precisasse fazer muitos consertos ou que não me vestisse bem. Na pior das hipóteses, eu poderia não gostar e ter que doá-la.

E pra ser bem honesta, eu não estava afim de correr esses riscos.

É nessa hora que entra a peça piloto, que nada mais é que um teste para levar o molde às suas medidas e ter uma peça com caimento perfeito.

Neste caso o tecido que usei foi o algodão cru, mas geralmente uso qualquer tecido barato para fazer o piloto.

Se eu tivesse feito direto no tecido final, ficaria frustrada! 🙁

O vestido ficou grande em mim, requerendo vários ajustes. Eu poderia fazer isso depois de ter costurado a peça no tecido final? Sim, claro. Mas teria todo o trabalho de desmanchá-lo, além dos riscos de estragar o tecido ou de não conseguir fazer algum dos ajustes devido ao corte.

Mas vamos lá, vou falar das alterações que fiz após ter provado o piloto:

  1. Começando pelos ombros: originalmente o vestido tem mangas, então a largura do ombro está voltada para o encaixe delas e por isso ficam maiores do que a medida comum de uma peça regata. Como não utilizei a manga, reduzi o ombro para ficar mais bonitinho;
  2. A gola achei um pouco fechada, mas desci apenas 1 cm em todo o contorno;
  3. O decote também estava muito profundo e eu subi cerca de 5 cm;
  4. Na lateral do busto tive que apertar cerca de 3 cm cada lado (ou seja, o tamanho 36 provavelmente seria ideal);
  5. Também ajustei alguns centímetros na cintura;
  6. Subi 3 cm em todas as pences. Achei que elas estavam deslocadas em relação à altura da minha cintura;
  7. Quadril mantive, estava ok;
  8. Reduzi cerca de 7 cm na barra.

Tá bom de ajuste ou está pouco? Hahaha 😛

Na sequência, todos os ajustes foram repassados para o molde e marquei as alterações deixando-o assim com as minhas medidas.

Se trabalhássemos numa indústria de moda, esse molde alterado ganharia um novo piloto que seria provado na modelo e nesta segunda prova, teria-se a certeza de que os erros foram corrigidos. No meu caso (que faço roupas para mim ou encomendas), cortar o forro para prová-lo já é suficiente.

Ou seja, o forro é a minha “prova dos nove”. Ele me traz a segurança de estar com as medidas adequadas para o meu corpo e assim ter uma peça com caimento perfeito.

Só depois de provar o forro é que cortei o tecido principal e costurei o vestido por completo.

Daí você pensa: mas que trabalheira!

É, eu sei. Mas tudo isso garante uma peça muito certinha, evitando correr riscos com um tecido mais caro e talvez impossível de ser reposto.

Ah, outra coisa que eu gostaria de comentar! Sim, se eu tivesse costurado o vestido no tecido final, poderia ter desmanchado o vestido para fazer todos os ajustes depois e ainda assim ficar com a roupa bonita. EXCETO por um detalhe: no decote eu subi 5 cm. Mas com o tecido cortado, seria impossível subir esses centímetros sem deixar a peça com cara de defeito. Eu teria que arrumar outra solução para o decote ou mantê-lo profundo como no desenho original.

Um último detalhe ainda foi alterado: reparei (vendo uma foto) que o comprimento ainda não estava ao meu gosto e decidi reduzir cerca de 5 cm na barra. Pode parecer meio doido, mas ver a peça em uma foto nos dá uma maior percepção da roupa. Faça o teste! Não se limite apenas ao espelho.

Antes de terminar o post, gostaria de comentar sobre algo muito importante!

Fazer uma peça piloto implica em utilizar um tecido que provavelmente vai virar lixo. Eu já pensei e repensei mil vezes sobre isso, e os melhores caminhos que encontrei até agora foram dois:

  1. fazer um piloto com um tecido de melhor qualidade e dar a peça de presente pra alguém.
  2. Reutilizar o tecido. Eu costumo descosturar os pilotos e ir utilizando os tecidos em novos testes. Quando as partes começam a ficar pequenas, eu emendo outros tecidos, deixando-os maiores para cortar novas peças de roupas e assim continuar reutilizando o material ao máximo possível.

Essas foram as maneiras que encontrei de não gerar tanto lixo e nem inutilizar as peças de roupas.

Tem alguma sugestão pra me dar? Tem feito testes em peças importantes?

Se quiser falar comigo, pode me encontrar por aqui ou no meu canal.

Boas costuras,

Patricia C.

Quer saber mais sobre modelagem? Então aperte aqui!

Patricia Cardoso

Sou uma paulistana que agora está em terras germânicas. No Brasil ou na Alemanha, minha paixão continua a mesma: a costura! Cresci convivendo com duas costureiras de mão cheia e transformei esse encantamento na minha profissão. Hoje, além de costurar minhas próprias roupas, dou aulas, tenho um blog e um canal no Youtube. Sou formada em Desing Gráfico e amo tudo que envolve arte.

View Comments

  • Meu corpo apesar de magro é fora do padrão industrial e fazer piloto com tnt tem sido garantia de sucesso. Procuro reaproveitar em outros testes e quando não dá mais guardo para enchimento de almofadas. Bjs

  • Eu faço minhas peças com tecidos reutilizados como peça piloto,porém estou começando costurar minhas roupas agora,antes só fazia consertos,tenho muito que aprender.

  • Gente, essa matéria complementar sobre peça piloto é sensacional, respondeu minhas perguntas mesmo antes de pensar nelas!!!! Aprendi muito Patrícia, muito obrigada. Acredito que fazer a peça teste realmente é importante e imprescindível, me convenceu. Vou fazer exatamente isso. AMEI!!!!

  • Acabei de crer nisso hj ao fazer meu primeiro bolso. Realmente vale a pena fazer peça piloto. Obrigada, Patrícia.

  • Realmente muito necessario mesmo, amei aprender sobre o assunto

  • Faço peças pilotos com tecidos mais em conta e depois faço doação das peças para bazares de instituições de atendimento a pessoas necessitadas

  • Goste muito de Tudo o que você falo porque não se costurar e assim como você fez ajuda que as perssoas Novas como eu na costura estemos más seguras ao terminar. Desculpe ainda estou aprendendo Tambem o idioma porque sou venezolana

  • Eu estou lendo esse blog no exato momento que costurei uma blusinha que queria muito para mim mesma mas não me serviu e não tenho margem para o ajuste que eu queria :'( Vou ter que presentear alguém com a peça. Mas já ficou o aprendizado: Sempre fazer a peça piloto!!

  • Estou voltando a resgatar o gosto por criar, costurar e fazendo moldes com TNT percebi q poderia costurar p a prova, e agora vejo q da certo e não sou a única!! Adorei as dicas

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